Passa ou repassa

Tem gente que discute sobre o que se pode ou não dar risada. Se o humor deve ter limites. Que limites seriam esses? Baseados em algum código de ética escrito por uma comitiva de defensores de uma visão sóbria da vida? Quem pode categorizar e controla tais impulsos exclusivos do bicho homem? Humor é multiplo e por demais subjetivo. Humor pêra, moral maçã. Humor é por princípio uma visão desdramatizada e distanciada dos eventos da vida. Mas e se essa distância entre ponto de vista e realidade se encurta, ai é que começa a divertida entropia.

Há pouco tempo esteve na ordem do dia a discussão sobre a “nova censura” (ou “classificação indicativa”) motivada pelas determinações do Ministério da Justiça, que reclassificaram horários de programas e até chegaram a tirar alguns produtos de circulação. (como, por exemplo, um dvd do desenho Pica-Pau que, em seus extras, supostamente apresentava cenas inadequadas para o “público indicado”). Também causou polêmica e perplexidade a resolução 23.191/09 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que praticamente impediu que humoristas abordassem o processo eleitoral. Após protestos da classe e do público em geral a resolução foi revertida, porém há muita reflexão a ser feita e muito a ser compreendido pela opinião pública sobre este ping-pong entre proibir e liberar.

Dentro dessa discussão está também a diferenciação entre entretenimento e jornalismo, que escorre pelos dedos para o velho embate teórico entre ficção e realidade, que por sua vez remete às discussões filosóficas de botequim sobre o que é “real", o que é "ficção” e sobre o que “pode” ou “não pode” ser mostrado ao público em grande escala.
Mas como definir alguns programas híbridos, que misturam crítica social com humor, jornalismo com humor e as vezes até prestação de serviço com humor?
Atualmente, o jornalismo e o entretenimento são controlados em portarias diferentes do Ministério da Justiça e a confusão entre o que pode ou não ser mostrado se estende em um emaranhado retórico que se faz cada vez mais difícil de ser entendido pelo seu maior interessado, o público em geral.

No Risadoc será aberto um espaço inédito para que se levante questões sobre misturar a crítica social, o entretenimento, a polêmica, o riso e a reflexão no maior liqüidificador da comédia brasileira, o Risadaria.

2 comentários:

  1. Só uma correção: o Ministério da Justiça não proíbe programas nem suspende venda de DVD. A classificação indicativa apenas restringe o horário de veiculação de alguns programas (depois das 18, 19, 20, 21, 22 ou 23h, conforme o caso).

    Se a empresa acha que não vai vender se tiver um selo "14 anos" na capa, ou que ninguém vai ver "Os Simpsons" se tiver que passar depois das 19h, isso é um problema do mercado, não do MJ.

    Marcos

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  2. Olá Marcos, grato pela explicação detalhada.
    Mas no caso referido, a venda dos dvds do pica-pau foi temporariamente suspensa para a correção da classificação indicativa no gráfico das capas. Foi feita uma reavaliação dos extras e entenderam que eles continham cenas que não poderiam ser acompanhadas da etiqueta "LIVRE". É só um exemplo dos níveis em que a patrulha do politicamente correto pode chegar. O DVD não foi proibido e voltou às prateleiras. Mas com "um aviso de perigo". É um pouco estranho tudo isso..
    Abrs

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